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quinta-feira, 26 de julho de 2018

Comunidades de Aracati participam de Intercâmbio do P1+2 na Ibiapaba


"Eu me sinto uma semente com todo esse aprendizado, 
desde o começo".  
Irenice - agricultora - Aroeiras/Aracati - CE

Chico Antonio acolhendo participantes do intercâmbio do P1+2


Durante os dias 23 a 25 de julho, agricultoras e agricultores do município de Aracati e técnicas/os da Obas puderam vivenciar diferentes aspectos da Agroecologia, no intercâmbio em Viçosa do Ceará e Tianguá, proporcionados pelo P1+2 - Programa Uma Terra e Duas Águas, em que são construídas cisternas de captação de água para produção de alimentos.


Jorge Pinto - coordenação da Obas, fala sobre as organizações populares e agroecologia

Chico Antonio nos recebeu no Recanto Beija-flor, seu sítio localizado em Viçosa do Ceará, na Serra da Ibiapaba. Logo uma grande roda formou-se debaixo da mangueira, que com sua sombra frondosa nos acolheu no entorno de uma mandala de sementes, folhas, flores e frutos cuidadosamente montada pela família para encher nossos olhos de encanto e curiosidade.




A mandala teve um propósito: Chico a utilizou para nos indagar sobre o que entendemos sobre agroecologia, que espécies e culturas conhecíamos, quais fazem parte das nossas realidades locais e o que tínhamos visto que não conhecíamos. Certamente foi um momento muito rico de apresentações e descobertas, em que gerações diferentes puderam expressar seus saberes (saiba mais no quadro - O que foi dito). 

Mandala
Almoçar um baião de fava, com salada de alface, tomate cereja, batata,  galinha caipira e suco de ata, parecia que ia nos deixar sonolentos para percorrer as áreas do sítio, mas foi como combustível animador.


O clima estava mais do que propício a visita, mas não à toa. Certamente o empenho da família em cultivar espécie para reflorestar o local muito contribuiu. Foi a vez do Chico Antonio contar de como, há dez anos, chegou no Recanto e o encontrou totalmente diferente. "Era praticamente monocultivo. Onde é minha casa hoje servia de depósito de agrotóxico. Eu não quis saber de nada daquilo. Foi um trabalho árduo, de conhecer as espécies, de experimentar manejos, de observar as mensagens que a própria natureza dava", disse ele.

Chico Antonio mostra as espécies cultivadas em seu sítio
Entre Jaqueiras e abacateiros, novamente Chico Antonio nos encantou com seu conhecimento e amor pela terra. A começar pela substituição das "covas é onde a gente enterra algo morto. A gente fala é berço germinativo, que é onde vão nascer bons frutos", disse ele. Na caminhada pelo sítio, pudemos perceber nitidamente as mudanças nas áreas não roçadas, onde o mato cresce como cobertura de proteção do solo, mantendo-o úmido. Perguntas não faltaram,  numa aula de campo necessária para a promoção da agroecologia.

Da serra pro sertão, há diferenças,
mas há semelhanças também...


Visita ao sítio do seu João e dona Graça

...que foram comprovadas na visita ao sítio do seu João e dona Graça, na comunidade Areia Branca. A família se completa com o filho, Eduardo, que foi educando da EFA Ibiapana e que também contribui com seus conhecimentos na área. Seu João falou com entusiasmo sobre agroecologia e de como vem participando dos debates. "Eu fui pro IV ENA e lá percebi que não existe diferença no amor dos agricultores pela terra. Pode ter formas diferentes de plantio, culturas diferentes, tipos de solos diferentes, mas a responsabilidade e respeito pela terra é o mesmo", disse o agricultor.

Seu João mostra sua mandala, onde cria peixes e patos.
Lá pudemos ver as tecnologias da cisterna calçadão, bioágua, canteiros produtivos e a Casa de Sementes. Foi nesse espaço que conversamos sobre a preservação das sementes crioulas que nos são passadas há gerações e de sua importância para o ecossistema.


Casa de Sementes da comunidade Areia Branca
Foi uma experiência mais que sensorial, de troca de saberes e sabores: mas também de unir os afetos, olhares e perspectivas para um mundo compartilhável. O fato é que visitar outras realidades nos traz sentimentos diversos, seja de comparação com o que estamos realizando, seja com o que ainda está por vir. 



Vale lembrar que contamos com o apoio da Espaf, representada por Elviro que, além de gentilmente nos acompanhar nas duas visitas, nos certifica que somente através da coletividade, da união e parceria, podemos fortalecer nossas lutas. 


Sigamos...


O que foi dito...

"Agroecologia é um movimento harmônico de saúde, bem estar, afeto, alegria, respeito ao meio ambiente e às pessoas... É uma junção de saberes que se direcionam a tudo o que é bom". Chico Antonio – Agricultor, voluntário da EFA Ibiapaba, está escrevendo seu TCC sobre suas experiências com SAF – Sistema Agroflorestal.

"Nem todas as pessoas hoje tem a oportunidade de consumir alimentos saudáveis, com base agroecológica. Por isso é tão importante encontros como esse, que nos faz pensar sobre como aplicar nossos conhecimentos para que outras pessoas tenham essa oportunidade" Josimar Galdino – Técnico da Obas

"Aprender mais sobre o que o campo tem a nos oferecer." Luan - Aroeiras/Aracati
"Buscar e compartilhar conhecimentos é o que nos move e nos encanta na agroecologia". Jorge Pinto - coordenação da Obas

"Eu só sei viver da agricultura. Eu planto mandioca, milho, feijão... A gente sempre espera ter uma vida melhor, com saúde. Mas aí a gente não pode usar veneno, né?" José Félix - Aroeiras

 "Olhar para mandala é perceber todo o ciclo de produção. A semente no centro, depois as folhas, flores, frutos... E depois a semente novamente dentro do fruto. É a representação da vida." Samia - Técnica da Obas

"Me sinto privilegiada pela conquista da cisterna, mas não por ela só, mas pelos conhecimentos que a gente adquire. É possível viver sem agrotóxico, sim! Por isso é importante esses intercâmbios pra gente entender outras realidades e pra nos alertar, pra gente saber o que produzir e consumir o que a gente produz". Nilca, agricultora Aroeiras/Aracati

"A Agroecologia é libertadora. Nos fala sobre resgate das sementes crioulas, dos bancos de sementes, das relações humanas, de responsabilidade e confiança. É preciso reconhecermos nosso compromisso com a terra, com a gente e com as pessoas" Renata, estudante de Agrononomia na Unilab e estagiária na Obas

"Agroecologia é vida. O ciclo da mandala nos comprova a continuidade da vida". Ezequias Frota - técnico da Obas

"Agroecologia é questão de vida. A ultima extremidade somos nós, que dependemos dela" Natália Silva - técnica da Obas
"O caju é a nossa riqueza lá em Aracati. A gente passa o ano esperando. Sou feliz no meu interior, mesmo não tendo tanta diversidade de plantas. Mas o que a gente tem é bem cuidado". Edilene - agricultora, Aracati

"Se a gente não plantar o que consumimos, muito vai mudar nos nossos hábitos. Muito vai se perder" Silvanio Jr - Jovem agricultor, Aroeiras

"Eu fico observando as histórias e acho que tem tudo a ver usar a informática a favor da agroecologia. Eu penso em estudar agronomia um dia" Gabriel, jovem da comunidade Aroeiras

"Existem diversas maneiras de ajudar o planeta, de ter uma boa convivência, de não poluir, de não pensar só em si. Temos que perceber esse dilema para além do nosso Ceará. É uma questão de mundo". Manuela - Aroeiras

"Agroecologia é modo de vida, perspectiva do comportamento, da felicidade, da saúde e do respeito" Chico Antonio

"As sementes germinam, vem as flores, os frutos... Quem mora no campo tem absorvido muito produto industrializado, desvalorizando o que nossos pais e avós produziam. As novas gerações tem pouco interesse e conhecimento do que a agricultura saudável tem a nos trazer" Rosana - Aroeiras

"Diversidade sem veneno. É possível levar uma vida organizada, saudável e feliz com a agroecologia" Adilton Morais - técnico da Obas



 Ricardo Wagner - comunicador popular pela Obas






quarta-feira, 4 de julho de 2018

Lançamento do Candeeiro celebra a agroecologia e a vida

Dona Angélica durante o lançamento do Candeeiro e banner

Ontem foi dia de muitas comemorações para a família da dona Angélica. Logo pela manhã, ela recebeu em sua casa, na comunidade Pau Pereira, em Chorozinho, agricultoras e agricultores que receberão cisternas calçadão do P1+2 – Programa Uma Terra e Duas Águas.


Famílias do município de Aracati que receberão as cisternas calçadão e enxurrada do P1+2
Sempre com um sorriso acolhedor, dona Angélica, seu Francisco, suas filhas e filhos nos falaram da satisfação em nos receber para compartilhar a alegria pelas conquistas mais recentes e para isso foi preciso voltar um pouquinho no tempo.


Projeto do Reuso das Águas, recém instalado



Há três meses, a equipe de comunicação da Obas participou da formação do Projeto Reuso das Águas Cinzas, com cerca de 19 participantes, e a noite, ao redor da fogueira montada em frente ao alpendre da casa, teve a oportunidade de ouvir os relatos de dona Angélica e seu Francisco. 


Seu Francisco mostra o canteiro que produziu 40kg de alimentos para o PAA

A trajetória do casal perpassa por situações de dificuldade, mas que a união e diálogo prevaleceram como estratégias de resistência. Para estimular a participação da comunidade nos projetos, dona Angélica utiliza suas práticas agroecológicas como estratégia de mobilização. 







Ozelina, filha de dona Angélica, mostra os canteiros com mudas.

A família faz questão de apresentar aos visitantes cada canto da propriedade e quais tecnologias já conseguiram implementar e as mudanças positivas que se instalou em suas vidas.






E ontem foi a data escolhida pela equipe da Obas para fazer o lançamento da edição número 2332 do Candeeiro, boletim informativo da ASA que conta histórias exitosas do semiárido como a de dona Angélica, que não poderia ficar de fora.


Distribuição dos Candeeiros

Após a acolhida às famílias, ter contado sua história, ter ensinado diversas receitas caseiras baseadas na sua farmácia viva, dona Angélica foi surpreendida com a notícia de que o Candeeiro com a sua história estava pronto e seria entregue naquele momento. Alegria da família irradiou o ambiente. Mas as emoções não foram apenas pra dona Angélica: fomo surpreendidos com a notícia de que era o aniversário do seu Francisco e que com apenas três meses de concluída a tecnologia do reuso da água, a família já tinha colhido 40 kg de cheiro verde e fornecido para o PAA – Programa de Aquisição de Alimentos!
Hora de cantar os parabéns para o seu Francisco
Seguindo a linha de receitas, podemos concluir que salpicar em nossas vidas umas pitadas de perseverança, luta, fé e bom humor, teremos como alimento fortificante e saudável o bem viver.



P1+2 – Programa Uma Terra e Duas Águas - financiado pela Asa e executado pela Obas, o programa beneficia famílias agricultoras com tecnologias sociais de captação da água da chuva para produção de alimentos e criação de pequenos animais, e acontece em todo o semiárido brasileiro. Nessa etapa, serão 186 famílias beneficiadas com cisternas calçadão e de enxurrada.

Projeto Reuso das Águas Cinza – É um projeto piloto, financiado pelo Governo do Estado do Ceará, através da SDA – Secretaria de Desenvolvimento Agrário. A tecnologia social conscientiza sobre a importância do uso consciente da água e sua reutilização, através do armazenamento e manejo da água descartada do banho, lavatórios e pias, que passam por um processo de descontaminação para serem utilizadas na irrigação e produção de alimentos. Quarenta famílias serão beneficiadas com essa tecnologia social.


                                                                      Por Ricardo Wagner – Comunicador popular pela Obas




quarta-feira, 20 de junho de 2018

Obas realiza Oficina de Conversa Desenhada na EFA Jaguaribana





Hino da EFA Jaguaribana
Escola Família Agrícola
Lugar de paixão e cidadania
Contemplar a terra
E a natureza
Se apaixonar pela vida  e a beleza
Cultivar a terra e guardar a criação
Essa é a nossa missão
Escola família agrícola
Lugar de paixão e cidadania
A luta da justiça e da igualdade
Preservar a vida e a biodiversidade
Cultivar a terra e guardar a criação


Essa é a nossa missão 
EFA Jaguaribana
Zé Maria do Tomé
Com coragem amor e fé
Na luta por terra e água
Viver a Agroecologia e conviver com o semiárido
Essa é a nossa missão








Quando se fala em educação no meio rural, estamos habituados a ouvir histórias de jovens que encerram seus sonhos logo ao concluir o ensino médio. São vários os fatores para a evasão escolar, desde o fechamento das escolas rurais até o sonho do primeiro emprego, atrelado à independência financeira e ajudar os pais. Entretanto, sabemos que a educação no campo e para o campo tem contado com um importante instrumento: a EFA ou Escola Família Agrícola.
Em 2016, quando soubemos que nasceria uma EFA em Tabuleiro do Norte, logo vieram expectativas e sonhos de como colaborar com essa modalidade de educação, que se baseia na pedagogia da alternância, focando na Agroecologia, é mergulhar num universo de possibilidades. Vamos conhecer um pouco da trajetória da EFA Jaguaribana Zé Maria do Tomé, localizada na comunidade Currais, em Tabuleiro do Norte, Ceará.

Educação no campo e para o campo


 Thiago Valentim - agente da CPT -Comissão Pastoral da Terra e presidente da Associação Família Agrícola Jaguaribana.  
Segundo Thiago Valentim, “a ideia de criar a EFA em Tabuleiro surgiu a partir da experiência com a EFA Dom Fragoso, em Independência, que já existe há 16 anos. “Em março de 2016, criamos um grupo formado por lideranças comunitárias, professoras/es, presidentes de associação, sindicatos, representantes da paróquia local e trabalhadores rurais, que chamamos de “núcleo de origem”  e iniciamos o processo. A nossa proposta pedagógica é bem parecida com as outras EFA’s, que são escolas comunitárias, de nível médio, integradas ao técnico em agropecuária. No nosso caso, uma escola fundamentada na Agroecologia. A metodologia é baseada na pedagogia da alternância, onde os/as educandos/as não saem das suas realidades: passam 12 dias na escola e 18 dias em casa. Na escola, participam do processo de formação que inclui as disciplinas da Base Comum do Ensino Médio, as disciplinas do curso Técnico em Agropecuária, e uma série de atividades transversais como oficinas, debates, mini cursos, rodas de conversa... E levam atividades para fazer em casa, junto às suas famílias e a comunidade.


“É uma escola que pretende formar esses jovens para que continuem no campo, a partir de um projeto que chamamos de Agroecologia. Serão  profissionais com uma formação diferenciada, um técnico que se integra aos saberes dos agricultores familiares na região” Thiago Valentim




A primeira turma é formada por 12 jovens da zona rural, embora alguns sejam da zona urbana. Tem jovens de Potiretama, Iracema, Russas e Tabuleiro do Norte. O importante é que demonstrem interesse pela realidade camponesa, que se adequem a metodologia da escola, que se adaptem à convivência com outros jovens no mesmo espaço. Além dos jovens, os pais ou responsáveis precisam estar comprometidos, afinal o próprio nome da escola já diz isso.“Nossa estrutura ainda não comporta uma turma maior. Temos como desafio para o próximo ano, uma nova turma, pela visibilidade que a escola vem alcançando através da divulgação que os educandos/as atuais vem fazendo”, disse Thiago.


“A EFA não é uma escola fechada. Nossa articulação na região se soma à pluralidade das lutas e aos muitos desejos para que a agroecologia seja um projeto consolidado. E a gente vai descobrindo a cada dia as formas de contribuir para um semiárido mais solidário, vivo e feliz.” Thiago Valentim





Manter uma escola não é fácil. E a EFA Jaguaribana sobrevive de doações financeiras, de alimentação, de materiais escolares e didáticos. A comunidade dos Currais tem participado bastante dos mutirões, assim como município de Limoeiro e organizações da sociedade civil. E não podemos deixar de citar as/os professoras/es e colaboradoras/es que de forma voluntária doam seus tempos, conhecimentos e muito amor.


Uma rede de punhos fortes

A cada 2 meses, a Rede das EFA´s reúne sua equipe para planejar estratégias que envolvam a juventude e a comunidade para além das ações cotidianas da escola, partindo da formação da juventude em Agroecologia, para enfrentar o esvaziamento do campo provocado pelo agronegócio, pela mineração, o fechamento das escolas rurais, entre outros temas, e também para que as famílias desses jovens percebam outras formas de produzir , gerar renda e ter qualidade de vida.


Bora desenhar o que a gente conversou?
Alisson Chaves fala sobre a trajetória da EFA Jaguaribana
No final de semana passado, a juventude educanda da EFA recebeu o comunicador popular da Obas, Ricardo Wagner, para trocar ideias sobre facilitação gráfica, ou conversa desenhada. A atividade é uma das muitas que virão, focando na comunicação popular como ferramenta de expressão e divulgação de temas como agroecologia, convivência com o semiárido, gênero, direitos humanos entre outros. 




A metodologia é bem simples: aborda-se a comunicação no contexto histórico, suas modalidades e instrumentos e elege-se um tema para a Conversa Desenhada. A trajetória da EFA foi escolhida para que se tenha um registro histórico. Daí, a partir de vídeos, dinâmicas e de uma cartilha que contempla algumas técnicas de desenho, a turma pode exercitar a metodologia.

Com o apoio do comunicador popular da EFA - Alisson Chaves, que fez o resgate histórico do surgimento da EFA, duas equipes mistas foram formadas e a criatividade correu solta, traçando uma linha do tempo com muito humor e atenção aos detalhes. 

E as trajetórias individuais? Vamos conhecer?

Sahmara cuidando do jardim da EFA
Com voz e semblante tranquilo, Sahmara é uma das educandas da primeira turma da EFA. Nascida em Tabuleiro do Norte, filha de agricultores e com um irmão adolescente, a jovem nos conta que soube da escola através de amigos. “Eu tava com o meu companheiro e aí um amigo começou a falar sobre a EFA. Nossa... Foi uma visão totalmente diferente das escolas convencionais. Aí eu me interessei e fui buscar mais informações no site da EFA. Depois da inscrição, foi só ansiedade pra começar”. 

“Sim! Nós mulheres podemos decidir o que queremos ser”.
Sahmara – 25 anos, educanda da EFA Jaguaribana
Sahmara falou que nunca tinha participado de grupo de jovens, mas já conversava com amigas sobre feminismo, direitos, juventude, relacionamentos...  “Eu já tinha uma noção. Mas Agroecologia eu nunca tinha ouvido falar. Pra mim é tudo novo”. Sua trajetória parece com a de muitas jovens camponesas: “Eu venho de escola pública e tinha feito até o primeiro ano do ensino médio, em 2012. Eu parei pra começar a trabalhar e ajudar meus pais. Eu já viajei muito, morei noutras cidades... Mas me arrependi muito de ter parado de estudar. Agora eu voltei porque meus pais e meu companheiro me incentivaram, principalmente quando souberam que o ensino tinha a ver com a agricultura. Minha mãe gostou muito de saber que a escola fica numa comunidade próxima onde eu moro... A cada sessão, ela fica perguntando o que eu tô aprendendo...” afirmou a jovem.

Sahmara continua levando sua vida como antes, mas agora com outro olhar para o futuro. “Eu tinha o desejo de fazer uma faculdade relacionada à estética. Agora que eu conheci a EFA, quero algo mais voltado pra natureza, ser uma bióloga... E quando eu falo para as minhas amigas sobre a EFA, elas perguntam: Ah... Vocês ficam lá capinando? As mulheres tem privacidade? Elas acham que a gente fica só trabalhando em roçado. Aí eu vou explicar que a gente estuda as matérias convencionais, estuda agroecologia, espanhol  e elas ficam surpresas. Eu digo que a gente põe a mão na massa, sim, mas com orgulho. A gente tá expandindo a nossa escola, deixando ela com a  nossa cara. Eu convido minhas amigas e suas famílias pra nos visitar. Todo mundo é bem vindo aqui! Além de uma escola, a EFA é nossa casa!” disse sorridente.


Arte e educação a serviço da Agroecologia


Paulo Vitor, cuida da horta da escola
No auge das descobertas e questionamentos, Paulo Vitor, de 16 anos - se revela atento às coisas do mundo. Natural de Tabuleiro do Norte, o jovem nos falou sobre os motivos de procurar a EFA para ampliar seus conhecimentos. “Eu soube da EFA com um amigo, o Alisson. Eu me interessei porque não é uma escola convencional. A gente aprende sobre a natureza tendo o contato com ela, e ainda cria uma nova família, pois a gente chega e não conhece ninguém. Eu não sou filho de agricultores, mas tenho uma identidade muito forte com a terra. Minha origem é muito urbana, mas eu sempre gostei de estar nos rios, de acampar nesse local que hoje é a EFA... mas eu não tinha contato com ninguém que falasse sobre Agroecologia”.

Fã do clássico Laranja Mecânica, Paulo diz ter uma boa relação com as artes, em especial com a música e a literatura. Autodidata, aprendeu a tocar violão sozinho e confessa que sua timidez atrapalha um pouco nesse aspecto. “Aqui tô me soltando mais, porque tudo é debatido de forma respeitosa. E eu acredito que a música pode contribuir de alguma forma com o que a gente aprende na escola, pois falamos de agroecologia,direitos humanos, LGBTT’s, os movimentos sociais... Minha perspectiva é fazer uma faculdade de agronomia, trabalhar na área... Aqui na EFA a gente desperta para ser um humano melhor e atuar em áreas que a gente nem imaginava”.


Fogueira e histórias de “malassombro”




Só faltou o milho e a batata para assar na fogueira, montada debaixo de um pé de oiticica, ao lado da escola. Logo após o jantar, a turma reuniu-se, embalada pelo violão do Paulo Vitor e surgiram as prosas ouvidas na infância, onde os pais e avós contavam sobre causos engraçados ou assustadores. Passeamos entre caiporas, “visages” e assombrações, tudo com muito humor e alguns sustos provocados pelo vento na mata. Mas nada impediu que tivéssemos um excelente sono na varanda, onde soprou uma brisa fina.


A manhã seguinte foi para concluir as ilustrações e fazer o resgate memorial. As equipes fizeram suas considerações e avaliação da metodologia e sugeriram como encaminhamento, que o próximo módulo de comunicação aborde um vídeo em stopmotion ou Time lapse. Pelo visto, nossos laços se fortalecem e a educação contextualizada se consolida como um dos caminhos para a Agroecologia.

Sigamos...


Ricardo Wagner – Comunicador popular pela Obas








quarta-feira, 13 de junho de 2018

Escola de Barreira promove Quinzena Literária sobre valores humanos

Prof. Flavio e prof. Alexandre, com a turma do 5º ano.
Hoje, dia 13 de junho, um dia após a data em que se promove a discussão sobre a erradicação do trabalho infantil, a Obas realizou uma oficina sobre xilogravura, a convite da Escola Francisco Correia Lima, na comunidade Areré, em Barreira.


O evento faz parte da Quinzena Literária que a escola irá realizar, cujo tema é "A educação e os valores humanos na escola".

Com 18 participantes do 5º ano, a oficina debateu a história da xilogravura, conceitos de iconografia, valores humanos, sem deixar de abordar a questão do trabalho infantil como um dos principais desafios enfrentados para garantir que os direitos das crianças e adolescentes sejam respeitados.

Luiz e Igor, torcedores do Flamengo, fizeram xilo em homenagem ao seu time.

Com muita animação e verbalização, as crianças colocaram suas impressões - literalmente - em placas de isopor, lembrando que tratava-se de uma simulação de xilogravura, já que a técnica utiliza-se da madeira. Entretanto, foi peculiar perceber que a turma estava bastante antenada com as questões de direitos e valores, facilitando a compreensão do que iríamos abordar nas xilos.


Momento de expectativa para ver como ficou a impressão

Como toda criança, as/os participantes fizeram questão de experimentar e criar suas técnicas e desenhos, permitindo uma variedade de leituras e temas.

Erlando e Davi, com as cartas do jogo criado por eles.

Além da oficina, conhecemos dois garotos, o Erlando Salviano e o Davi Silva (ambos com 10 anos) que criaram um jogo de cartas diferente. Mas isso fica para a próxima história. Pelo visto, a Escola Francisco Correia Lima tem muito o que contar.



Agradecemos o convite do professor Flávio e a colaboração do professor Alexandre.

E que vem mais encontros como este.


Por Ricardo Wagner - Comunicador popular pela Obas

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Obas participa do IV ENA – Encontro Nacional de Agroecologia, em Minas Gerais



Mulheres curando o Rio Doce na mística inicial da Plenária de Mulheres do IV ENA
Foto: Cintia Barenho
Entre os dias 31 de maio a 3 de junho, Belo Horizonte teve sua rotina alterada para receber as/os participantes do IV ENA – Encontro Nacional de Agroecologia. Com muita alegria e energia, agricultoras e agricultores, comunicadores/as, juventudes, integrantes de movimentos sociais, professoras/es, quilombolas, movimentos de mulheres, LGBTTQI’s, universidades e população se uniram no Parque Municipal de Belo Horizonte para apresentar ações agroecológicas e discutir avanços e propostas gerais. 








Com o tema “Agroecologia e democracia, unindo campo e cidade”, o ENA deste ano promoveu em suas tendas amplos debates buscando a conscientização de que “a agroecologia é uma alternativa para a superação do modelo de desenvolvimento agrícola e abastecimento alimentar ambientalmente predatório e socialmente injusto que permanece dominado as orientações políticas do Estado brasileiro”, como descrito em sua Carta Política, construída durante o encontro.









Conversa Desenhada
As experiências apresentadas vieram de todos os biomas brasileiros, visibilizando várias possibilidades de enfrentamento à degradação da natureza e aos dilemas sociais. A cada tenda, uma Facilitação Gráfica ou Conversa Desenhada foi realizada, com o propósito de permitir outras formas de comunicar as ações. A técnica promove a visualização das falas através da imagem como elemento lúdico, facilitando a compreensão e sintetizando o contexto.


O que produzimos é o que queremos consumir
Fernando Silva, jovem agricultor de Barreira/CE, participando da feira

Nada mais sensorial do que comer, cheirar, tocar, usar os produtos da agricultura agroecológica expostos na feira. Fernando Silva, jovem agricultor de Barreira, levou produtos como o mel, cajuína, doce de caju e castanha.

Bastante animado, Fernando disse que a feira “ É um evento que precisa continuar, pois a gente aprende muito com as outras culturas. Eu circulei pelas tendas e fiquei impressionado com a forma que outras pessoas de outros estados plantam. Eu vendi tudo que eu trouxe e comprei café, cachaça mineira, artesanato... Muita coisa que a gente não tem oportunidade de encontrar fácil. Já quero participar de todos os outros encontros sobre agroecologia”.


 Cultivar afetos, no campo e na cidade






Além das experiências da agricultura agroecológica, o espaço do IV ENA serviu também para apresentarmos as ações exitosas de convivência com o semiárido. A Obas, montou uma pequena mesa onde foram expostos os materiais de comunicação referentes aos projetos como os das cisternas de primeira e segunda águas, cisternas nas escolas, reuso das águas e formação profissional para jovens. Foi uma bela oportunidade para que as pessoas pudessem compreender as outras realidades do semiárido, muitas vezes deturpadas pela grande mídia. Numa conversa com a professora Malu, que fez mestrado na UFC e hoje mora em Belo Horizonte, ela recorda seu tempo de atuação na zona rural, e a importância de contextualizar a educação. "Sempre que as crianças viam algum exemplo refente às suas realidades, o aprendizado era mais rápido e prazeroso para elas", disse a sorridente professora.

















por Ricardo Wagner - comunicador popular pela Obas