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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Programa Cisterna nas Escolas realiza intercâmbio sobre Educação Contextualizada

#Obas16anos
#CisternanasEscolas
#SemiaridoVivo


“Feliz de quem entende que é preciso mudar muito pra ser sempre o mesmo.”
Dom Hélder Câmara


Compreender os semblantes da Educação é um desafio e tanto. E foi com essa perspectiva que professoras e professores de diversas microrregiões do Estado do Ceará participantes do Programa Cisterna nas Escolas foram convidadas para o Intercâmbio sobre Educação Contextualizada ocorrido nos dias 22 e 23 de novembro, em Independência e Quiterianópolis, municípios da Região dos Inhamuns.

Auditório Dom Helder Câmara, na EFA Dom Fragoso
A acolhida foi no município de Crateús e já no dia seguinte, o grupo visitou as exitosas práticas em Educação Contextualizada da EFA – Escola Família Agrícola Dom Fragoso. A escola, situada em Independência, conta hoje com 62 educandos/as de vários municípios que, no sistema de alternância aprendem e exercem atividades ligadas a agroecologia e diversas tecnologias alternativas de convivência com o semiárido, além das aulas regulares.

Felipe (camisa lilás) apresenta as tecnologias implantadas na EFA.


Felipe é aluno do terceiro ano e nos recepcionou e presenteou nossos olhares e ouvidos com seu rico conhecimento do bem viver no semiárido, apresentando as ações de suinocultura, avicultura, caprinocultura, apicultura, além das tecnologias dos viveiros de mudas, mandala, biodigestor, reuso de água, casa de sementes, casa do pão, dentre outras. Ele ressaltou que todas as atividades equilibram as temáticas de gênero, que transcendem seus cotidianos, desde a limpeza e organização da escola, como também nas atividades curriculares. “A sociedade já é muito machista e a gente aprende aqui desde o primeiro ano que temos que cuidar de tudo. E esse conhecimento a gente leva pra casa, pra que os mais velhos percebam que a gente avança. Por exemplo, o mito das mulheres terem medo de abelha, aqui isso não existe. A gente mostra pras pessoas que tudo se pode fazer, basta querer. Os meninos fazem as tarefas domésticas e quando voltam pras suas casas, continuam fazendo”, completou.  
Biodigestor

O grupo estava ávido de conhecimento, e as perguntas afloraram. E Felipe, com paciência, trouxe-nos diversos elementos de como a educação contextualizada traz resultados visíveis. “Temos que ser espelho para os outros. A gente faz uma pesquisa na comunidade sobre vários temas, por exemplo, as queimadas, que vem prejudicando a apicultura. Daí a gente devolve os resultados e acaba sensibilizando as redondezas da importância de se preservar o meio ambiente. Além disso, cada educando/a se responsabiliza em aplicar seus conhecimentos nas suas casas”.

Viveiro de mudas
A palavra de ordem foi Experimentar.
Depois de percorrer as áreas das sistematizações, uma roda de conversa foi costurando nossos entendimentos sobre a Educação Contextualizada e como ela pode fazer parte do nosso cotidiano nas escolas “formais”. Com o embasamento histórico da EFA Dom Fragoso – que completa quinze anos de obstinação, resistindo e contribuindo com a formação pelo bem viver.


Andrea (Esplar) dialoga com a juventude

Água é emoção
Mata sede
Umedece o torrão
Percorre caminhos
Encharca os olhos
Transborda o coração

Educandas/os falam sobre a ansiedade para a apresentação e encerramento do curso.

É óbvio que os olhos marejaram! Quem consegue segurar a emoção em saber que hoje, as sementes plantadas pela EFA Dom Fragoso hoje dão frutos pelos cantos do semiárido?
Exemplos de educandas/os que passaram pela EFA como da Fabiana – hoje no Esplar e do Josimar – hoje na Obas, pontuaram o quão importante esse modelo de educação é para qualificar o nosso debate nas comunidades do semiárido, seja através da implementação dos projetos da ASA, seja pelos diversos debates que estão de mãos dadas com o bem viver, como o combate ao machismo, racismo, LGBTfobia, intolerância religiosa, dentre outros.
Altar ecumênico, para refletirmos sobre intolerância religiosa

Pra quê aprender sobre Física e Química?
A resposta estava lá, no laboratório da escola. Nossos olhos se arregalaram diante dos experimentos científicos que o professor Rosberg Chaves compartilha com as/os jovens potencializarem em seus cotidianos, como da rede elétrica em suas casas, lâmpadas com garrafa pet, etc.
Assim fica fácil, divertido e útil aprender sobre qualquer matéria, né?


Professor Rosberg apresentando experiências no laboratório

Contexto
Com essa palavra tão poderosa e que nomeia uma plataforma que irá debater a questão de gênero e violência contra as mulheres, Rosângelo Marcelino – We World – nos convidou a unir forças e saberes na continuidade da luta das mulheres por igualdade de direitos.
Rosângelo (We World) apresenta a plataforma Contexto.

A plenitude do intercâmbio concretizou-se no dia seguinte, durante a visita à Escola Antonio Batista de Lima, na comunidade Pombo, em Quiterianópolis.

Maquete da cisterna na escola confeccionada por estudantes

 As crianças transbordaram seus conhecimentos sobre as questões hídricas, num passeio entre várias tecnologias implantadas na escola. Teve maquete da cisterna nas escolas e do biodigestor, diagnóstico hídrico da comunidade, Rap do quarto ano sobre a água... Imagina a nossa cara de alegria e das professoras de orgulho! 

Marcondes (camisa amarela à direita) e estudantes falando sobre o ciclo e captação da água para a cisterna na escola

O coordenador da escola, Marcondes, fez um relato de como a Educação Contextualizada tem transformado e despertado nas crianças e em suas famílias o olhar que antes era acortinado por imagens depreciativas do semiárido, onde a seca, a miséria, a fome e a ignorância eram elementos constantes. Hoje, os ícones são outros! Há as cisternas, os saberes populares compartilhados, as sementes e frutos saboreados, o re-conhecimento das culturas locais valorizados.

Restabelecer, recriar, reconstruir 
Três palavras que se fundem e que elevam nossos pensamentos sobre as práticas na educação. Assim pudemos avaliar nosso encontro, fazer proposições. As microrregiões fizeram uma avaliação em grupo que logo será socializada através de relatório. Destacamos uma proposta levantada pela microrregião do Vale do Jaguaribe, para que nas semanas pedagógicas dos municípios possa ser apresentada a Educação Contextualizada através da experiência do Programa Cisterna nas Escolas.
Mazza, da Secretaria de Educação de Barreira (segunda, da esquerda para a direita) apresenta a avaliação da micro Jaguaribe

Sim! É possível ser feliz no semiárido! E a Educação é um dos caminhos.
Há braços...

Mão segurando uma bomba de sementes (bola de argila com sementes que, quando molhada faz brotar)

Saiba mais
Asa – Articulação Semiárido Brasileiro www.asabrasil.org.br/

Obas – Organização Barreira Amigos Solidários www.obas.org.br


Por Ricardo Wagner