Há quem pense na terra
com o aspecto da casa suja, de terreiro descuidado... Há até quem não gosta de
tocá-la e quando é preciso, utiliza luvas para não sujar as mãos. Mas quem
sempre lidou com a terra, sabe que dela provém muita vida. O solo é um ser de
vital importância e muito complexo. É preciso conhecer seus aspectos físicos,
químicos e biológicos. Para isso, agricultoras e agricultores familiares,
através das experiências do dia a dia, conseguem ouvir o que a terra lhes diz,
como a capacidade de reter água, matérias orgânicas ali existentes e habitantes
como insetos, formigas e minhocas.
Mas, se conhecemos toda
essa dinâmica, o que tem acontecido para que os solos estejam sofrendo e
enfraquecendo? Talvez não estejamos tão conscientes assim da importância da
conservação do solo. A gente acaba esquecendo que tudo que vem pra nossa mesa,
vem da terra. Quer ver? O feijão, o milho, as frutas e verduras... Nem precisa
dizer, né?
Através da lei federal
nº 7.876, foi instituído o dia 15 de abril como o Dia Nacional da Conservação do
Solo, homenageando o conservacionista americano Hugh Hammond Bennett,
que nasceu nesta data, em 1881, e é considerado o “pai” da conservação do solo.
Mas qual a importância
de uma data como essa? O solo é fundamental para a nossa sobrevivência, já que
a produção de alimentos depende da terra e da água. É cada vez mais necessário
que formas sustentáveis e responsáveis desses recursos sejam de conhecimento de
todo mundo.
A ação de elementos
químicos, biológicos e físicos como as chuvas, ventos, matérias orgânicas e
seres vivos proporcionam a diversidade de solos, que servem de moradia e
proliferação de microorganismos e de outras espécies como minhocas e fungos,
que auxiliam na conservação desses solos, fazendo com que dessas terras brotem
espécies variadas de vegetações, formando diferentes paisagens, de acordo com
as suas condições. A partir daí, permite-se a sobrevivência de espécies que
interagem entre si e com o meio ambiente, como as aves, insetos e outros
animais. Uma das coisas que indica que o solo está bem cuidado é o aumento da
matéria orgânica, que diminui a liberação de gás carbônico na atmosfera, e dá
mais resistência às plantas.
Mas esse ciclo natural
tem sido desmantelado pelo uso inadequado dos solos. O monocultivo é outro
problema. A terra precisa respirar e se recuperar. Você conseguiria comer só um
tipo de alimento todos os dias? Seu organismo logo sentiria falta de outras
vitaminas. A mesma coisa acontece com a terra. O pior é que o agronegócio vem
fazendo isso há muito tempo e quando aquele solo já não é útil para aquele tipo
de prática, simplesmente o descartam e procuram outro. E assim, longos desertos
de terras improdutivas vão se formando.
E o que dizer das
queimadas? Essa prática elimina seres vivos minúsculos que fortalecem a terra.
E o desmatamento? Causa
erosão, prejudica o leito dos rios que precisam das matas ciliares... Tudo isso
tem alterado os ciclos da água que precisam da conservação do solo para
abastecer as reservas subterrâneas e assim garantir as águas das nascentes. O
que vemos hoje são chuvas escassas numas regiões e em excesso noutras.
Há exemplos milenares de
mau uso dos solos, como o Iraque, que hoje é tomado por desertos causados pelo
manejo inadequado da terra. A desertificação não é “privilégio” do oriente.
Quem nunca se deparou com um trecho de terra e disse: aqui não nasce mais nada?
É... Parece que os
problemas são muitos e na maioria das vezes a população rural leva a culpa
sozinha. Mas é como diz a famosa frase agroecológica: “Se o campo não planta, a
cidade não janta!”
Então, a responsabilidade
é de todo mundo!
As cidades têm degradado
os solos ocupando terras férteis, lançando seus esgotos nos leitos dos rios e
interferindo no percurso natural das águas, impermeabilizando ruas
impossibilitando a infiltração das águas nos solos além daquela esquecida e
pequena embalagem plástica que muita gente joga no chão, sem dar muita
importância.
E as estatísticas
apontam que a cada ano, bilhões de toneladas de terra fértil se perdem indo
para o leito dos rios. No Brasil, esse número passa de 840 milhões de
toneladas, provocado principalmente pelo aumento da agropecuária no
Centro-Oeste e na região Amazônica.
Mas vamos ao que
interessa: o que devemos fazer para modificar essa situação? Algumas ações
diárias que parecem pequenas podem influenciar, sim, por exemplo:
- Se você for construir
uma cisterna, por exemplo, guarde a camada mais superficial da terra, que é
mais ou menos 30 centímetros, pois ela servirá pra adubar as plantas, já que é
rica em microorganismos;
- Se estiver armazenando
alguma terra, cubra para que a chuva não a leve embora. Esse solo é muito
valioso para ser confundido com lixo e desperdiçado;
- Cuidado com aquele
óleo e a gasolina que respingam das motos. São produtos químicos e poluem o
solo e a água. Evite estacionar perto dos plantios e de nascentes de rios. Uma
gota é suficiente para contaminar centenas de litros de água;
- NUNCA use agrotóxicos.
Usar a desculpa de que é só um “remedinho” é tentar se enganar. Assim como mata
insetos, esses produtos fazem mal à saúde de qualquer ser vivo;
- Deixe as folhas secas
cobrindo a terra, mesmo que a vizinhança ache que você não tem coragem de
limpar o quintal! As folhas servem de proteção dos raios do sol e do impacto
dos pingos da chuva, evitando que os microorganismos na terra morram. Você pode
colocá-las na base das plantas ou separar num canto e juntar a restos de
vegetais, borra de café e cascas de frutas para produzir um excelente adubo;
-Ao invés de asfalto,
ruas com calçamento evitam alagamentos, pois a água consegue escoar e atingir
os rios subterrâneos e ainda deixa a cidade menos quente;
- Mesmo que você não
seja agricultora ou agricultor, sempre precisará da terra pra sua
sobrevivência. Todo alimento saudável que você compra seja na feira ou na
bodega, alguém um dia plantou. Por isso, valorize quem põe as mãos na terra
para proporcionar saúde a você.
E lembre-se: cuidar do
solo é cuidar da vida.
Ricardo Wagner – Comunicador popular pela
Obas
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